20111105

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A pobreza encheu meu corpo...
Como um pedinte ando a vaguear pelas ruas desertas, escuras, geladas...
A luz inebriante aquece por um pouco este coração descalço e calejado!

As pegadas são longas e o fim do caminho é cada vez mais fátuo.

A chuva lava-me o corpo, mas faz ferver minha alma, que escurece mais a cada bater de gota tão pura.

Estou só, para onde olhe só o vazio me rodeia, as casas as paisagem no horizonte o céu azul pintado por nuvens brancas caíram à muito. Restam as recordações de um tempo que com o passar do tempo nem sei se são reais ou imaginação sedenta.

O ar à minha volta parece uma prisão sem grades, cadeado ou chaves, só betão que a cada lamento parece comprimir.


A dor, é o resumo desta realidade onde eu caí, e essa não decaia, só embala esta tão estéril solidão.

A solidão anseia que tudo o que me é saudade volte por instantes e pregue todo o cenário como estava antes. Essa saudade que agora me fere como pregos na parede e abre buracos sem conta em meu chagado corpo.


Triste o elevar desta tristeza que não consegue fazer feliz só por um momento este olhar carente que sente pela t
ua perda e pela perda de tudo que em mim era felicidade.

E é só por esta felicidade que afronto este caminho, esteja minha alma rota, o meu corpo surrento, meu coração estripado, não paro!


Vou ao alcance dess
a felicidade, pisando os espinhos que encontrar rasgando os cominhos por onde tropeçar, até que luz em mim se ilumine, e nela encontre a certeza que por mais suja e imunda que esteja, por mais pobre e rasgada aparente, cheguei onde finalmente queria ter adormecido, e ao adormecer perceber, que tudo não passou de um pesadelo!

20111102

20 Setembro 2011

A tensão, o corredor que mais parecia um túnel gélido sem luz ao fundo ... O ar frio as paredes degradadas e o cheiro a doenças que se instalavam perante tão medonho cenário.

Nem sei como me vi perante aquele quarto, cortina corrida e respiração grunhida quase parada! Foi como se tivesse ficado mais gelada que o se próprio corpo.
Olhei e foi como se já não visse, mas tal era o bater do coração acelerado e o corpo bambo que nem me apercebi dos sinais que me mandara.

Na despedida a mão enxada pálida e fria levantou como se um adeus me dissesses sem dizer nada, não sei se os olhos me viram naquele instante, mas os meus já choravam só em pensar que seria a ultima vez que o iria ver.

Fiquei sem sentir com a notícia tão... tão...
Não consegui conter as lágrimas a dor e o buraco no meu peito abria mais a cada segundo que passava. A música de fundo era acompanhada com choros gritos e lamentos. A notícia que já se esperava, afinal apanhou de surpresa este coração que nem soube dar valor ao teres esperado que eu fosse para ires!
Aquela casa de repente ficou tão oca... Aquela sala com velas e olhares vazios estavam insuportáveis, e aquelas tábuas à sua volta pareciam estacas a travar-me o caminho que eu tinha de fazer para o conseguir ver!
A voz estava muda, os ouvidos moucos... Não acreditava na realidade, não era realidade!

O buraco na terra ainda molhada parecia sem fim de tão escuro que era. O preto o pálido e as caras sofridas encheram aquele lugar que outrora eu achei bonito!
Enquanto eram ditas as ultimas palavras para o seu eterno descanso, entre lágrimas escorridas pela face e em cada espaço de um suspiro, lembrava-o.
O HOMEM que era o PAI que foi e o AVÔ maravilhoso que sempre será!

Eras-me tanto, sem o saberes avô!

O que aprendi, o que sou direita ou indirectamente aprendi contigo...
A vida que me enche devo-a a ti... Só a ti, e acredita que ta dava só para te poder dizer o quanto te amo, como és importante para mim, finalizando ao dar-te um beijo na face ainda quente! Era tudo, mas tudo o que eu queria ter feito enquanto me podias ouvir, enquanto te encontravas ciente, enquanto poderias responder mesmo se fosse só com um sorriso e um brilho nos olhos. Era o que devia ter feito, mas acho que receei mais a tua morte que tu próprio. Mentalizei-me que ias ser, imortal... Talvez por isso nunca te mostrei o quanto eras para mim!
Acredita que em mim estão todos os teus sorrisos, todos os teus gestos, todo o teu ser, para sempre e todo o sempre, em mim farás parte do presente e para mim serás eterno!


DORME BEM AVÔ!